data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Guilherme Borges (Diário)
Com o afrouxamento das regras de isolamento social pelo Governo do Estado, permitindo, a critério dos municípios, a volta da atividade comercial no interior, muitos pais se perguntam se esse cenário deve se repetir nas escolas. As aulas no Estado foram interrompidas gradativamente desde 19 de março para evitar a propagação da Covid-19. O último decreto estadual regrando as atividades escolares prorrogou a suspensão até 30 de abril. O prazo também norteia as escolas da rede municipal.
No ensino técnico e superior, algumas instituições estenderam a data de retorno. Na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a pausa das atividades presenciais já foi prorrogada até 15 de maio. O Instituto Federal Farroupilha deve encerrar até mesmo as tarefas não presenciais para cursos técnicos e superiores, a partir do dia 15 de maio, e não tem data para retomar o calendário letivo.
De acordo com José Luis Eggres, chefe da 8º Coordenadoria Regional de Educação (CRE), não há nenhuma discussão sobre a volta do ensino presencial na rede estadual. Com a implantação das aulas programadas, que são atividades envolvendo conteúdos que os alunos já viram, enviadas por meio eletrônico ou impresso aos alunos, o Estado vem conseguindo abranger quase 100% dos discentes.
- Como estamos lidando com um vírus ainda desconhecido em muitos aspectos, é preciso que a retomada esteja assegurada por fundamentos científicos, e o Estado tem essa base de dados para nos orientar - diz Eggres.
A secretária municipal de Educação, Lúcia Madruga, diz que nesta semana o comitê de enfrentamento à crise deve dar início às reuniões com os setores da educação para começar a desenhar um retorno às aulas na rede escolar municipal. Segundo ela, os profissionais do meio estão avaliando possibilidades técnicas e alternativas de formação e avaliação. Lúcia diz ainda que o município precisa de um plano que englobe todos os alunos, e que o ensino à distância (EAD) precisa ser visto com cautela:
- A rede municipal terá de ter uma caminhada particular. Acredito num modelo híbrido entre presencial e à distância. Há uma confusão conceitual sobre o formato EAD. Ele precisa ser apoiado por tecnologia e nós não estamos preparados. Se ficarmos dependentes só da tecnologia, o ensino não chegará a todos, por isso, precisamos de uma saída bem pensada.
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INSEGURANÇA
Para a presidente do Conselho Municipal de Educação de Santa Maria, Luciane Maffini Schlottfeldt, a atitude mais acertada é prorrogar ainda mais o retorno. Os motivos, segundo ela, são as características do ambiente escolar:
- As escolas reúnem um universo de diferentes realidades. Recebemos crianças da zona urbana e rural, de níveis socioeconômicos distintos. Com a estiagem, existem localidades que estão sem água, o que dificulta as medidas de higienização. As crianças são vetores da doença e, sem essa segurança da higienização, será difícil manter o controle da epidemia. O transporte escola também está parado. Acho que é necessário manter o distanciamento até que se tenha um cenário mais tranquilo para uma retomada parcial.
Luciane destaca ainda que um regresso total seria inviável porque muitos professores têm problemas de hipertensão, asma, entre outros problemas classificados entre os grupos de risco do novo coronavírus:
- Não podemos ir na onda do comércio. O que temos discutido até agora é sempre priorizando a segurança das vidas, acima da recuperação de conteúdo, ou de qualquer outra questão.
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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Arquivo Pessoal
Sem escolinha, Vinícius, de 3 anos, conta com os cuidados do tio, o produtor musical Cícero Meincke Melo
ROTINA ADAPTADA
O dia a dia das famílias também teve de se adaptar ao isolamento social. A psicóloga e técnica em saúde mental da prefeitura de Santa Maria, Angela Meincke Melo, 39 anos, mãe do Vinícius, de 3 anos, se viu sem alternativas para deixar o filho quando a escolinha suspendeu as aulas. Vinícius estava a três meses na Mundo Encantado, uma instituição da rede privada que fica no Bairro Camobi. Ficava todas as manhãs e três tardes por semana. Angela estava tentando estruturar um consultório de psicologia para trabalhar à tarde, quando veio a pandemia. Ela chegou a acionar a babá que cuidava do Vinícius até o ano passado:
- Quando vi que era mais sério, que iria durar mais tempo, que até o transporte público havia sido suspenso, percebi o quanto estava colocando em risco também a vida da Raquel (babá), que também tem crianças pequenas, e o quanto seria importante que ela ficasse em casa.
A saída veio do núcleo familiar. O irmão de Angela, o produtor musical Cícero Meincke Melo, foi morar com eles para tomar conta do sobrinho.
- Como meu irmão é um trabalhador autônomo, pode trabalhar em casa, ele veio para cá. O tempo que vamos conseguir manter essa estrutura vai depender do Cícero. Espero que não demore tanto para que a gente tenha o mínimo de liberdade de novo - comenta.
Entre as maiores dificuldades do confinamento com o pequeno, Angela elenca as explicações sobre a mudança de hábitos:
- As crianças não entendem que a gente tem que chegar, tomar banho, higienizar todas as coisas que vêm da rua. Outra dificuldade é explicar que não pode ir nos lugares. Ele deve ter saído três ou quatro vezes para passear dentro do carro conosco. Foi complicado também explicar que ele podia ir correr no pátio da vovó, mas não podia ver a vovó, entre outras coisas.